ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ATÉ BREVE


( imagem- eu e minha bolsinha )

A vida é uma grande travessia. Pode ser árdua ou divertida. Ou até mesmo as duas coisas juntas. É ela que nós temos e é ela que devemos comemorar. Não, não é papo de poeta. Não vou repetir aqui o que venho dizendo em quase três anos de blog. Esse blog que me apresentou pessoas e ampliou meu universo de amizades. Todos aqui compartilham emoções e é baseado nisso que venho pedir aos amigos que torçam por mim numa nova empreitada, num novo projeto de vida. Poucas pessoas sabem disso. Com minhas irmãs nem falei, nem sei como ainda, pois sei que vão se preocupar, pensam que sou menino, mas eu sei que é porque gostam de mim. Eu não sou tão menino assim e tenho juízo sim. E também não sou tão frágil. As piores coisas passei sozinho. Só sei que é necessário partir. Estou no meio de uma ponte. Olho para trás e vejo conquistas que foram muito mais emocionais que materiais e isso talvez me tenha facilitado nessa travessia. A emoçao sempre me conduziu. Vejo tropeços também, aprendi com eles.Vejo gente querida. Puxa, como eu fui e sou amado. Semana passada, um amigo me disse. "Você mora aqui no bairro há 20 anos. Lembro-me do dia em que você chegou no bairro. Eu fiquei seu amigo no primeiro dia. Bati o olho e gostei". Claro que alguns não gostam da gente. Não tenho mágoa, mágoa é ferrugem na alma. Sò queria saber por quê. Mas eu preciso ir. Porque eu preciso das coisas materiais também, embora não esteja partindo especificamente por causa delas. Mas uma coisa que um passarinho não aceita é ter as asas tosadas, nem o coração oprimido. E só pede carinho e consideração. Sim, um poeta, mesmo profissionalmente falando, exige carinho e consideração. Não dá para separar homem e poeta. Estou mais uma vez mudando de cidade e agora até de estado. Morar sozinho para mim não é novidade, mas no início é sempre meio traumático e não tenho mais vinte anos, sei que vou ter mais dificuldades. Mas eu preciso partir. Recebi uma proposta praticamente irrecusável, eu até desejei e busquei isso, portanto não posso me queixar, mas cadê a droga dos meus vinte anos? Não vou usar a velha máxima que diz... "por que não aconteceu antes?". Pois sei que tudo acontece na hora devida. É a tão falada "segunda chance" que falei o tempo todo aqui no blog que a vida sempre me deu. E eu preciso partir. Porque o outro lado da ponte está me chamando me mostrando horizontes. De tempos em tempos a vida pede decisões e mudanças. Pequenas decisões a gente toma todo os dias. Falo das grandes decisões, as radicais, que dão uma guinada. Não estou assustado porque já dei outras guinadas importantes, mas é que está faltando ainda algum detalhe para essa guinada, que pela idade deve ser a final, seja 100%. Quem sabe eu consigo ainda essa porcentagem ( que não é dinheiro) para que eu seja totalmente feliz no lugar em que vou estar.
Bem, não estou indo ainda definitivamente, viajo na quarta-feira, vou passar doze dias fora numa espécie de estágio e ao mesmo tempo experiência que farei comigo mesmo. Após esses doze dias, eu volto e aguardo nova chamada. Adianto que verbalmente já está tudo acertado para em breve a mudança ser definitiva. Quando tiver melhores informações e com tudo realmente efetivado, darei detalhes ao amigos do blog. Só peço encarecidamente que torçam por mim. Não tenho medo do trabalho, só de de me sentir sozinho.

Dessa vez vou ter que encher a bolsinha.

ATÉ BREVE. FIQUEM COM DEUS. ESTOU INDO COM ELE.

domingo, 29 de agosto de 2010

ONDE ESTÁ MINHA ESTRELA?


( imagem google )
O dia é chato, um desacato
à minha essência, à minha inteligência, à minha paciência.
Os semáforos são sinais para a correria.
Desligo o rádio, as buzinas sufocam a melodia
e a poesia que a natureza faz todo dia.
Ainda bem que meu coração é surdo a esses tantos absurdos diurnos.
Pois, ele é noturno.
É de noite que eu falo com o silêncio.
É de noite que escrevo, que eu penso.
Meus semáforos são as estrelas
guias para minhas poesias
e ninguém pode detê-las
até que amanheça o dia.
Com elas conquisto minha melhor estrela.
É debruçado nessa janela
que eu toco nela.
A lua que vive de fases me diz que a vida é cíclica,
respondo que a saudade é crítica.
Ela acena e me sorri:
- Vou ali. Volto amanhã.
Pronto. Amanheceu o dia, já sinto o cheiro de hortelã.
Pergunto ao clarão do dia
onde ele escondeu minha estrela.
Gosto tanto da noite
que durante o dia fecho os olhos para vê-la

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CONQUISTANDO UMA MULHER


“Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados . Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore. Têm uns que se acham capazes, valentes, alcançam o topo e descobrem que é preciso mais do que coragem para conseguir a maçã perfeita. Descobrem que é preciso que ele continue acreditando que depois de colhida a maçã é homem suficiente para manter e proteger sua maçã e, principalmente, que não é porque a maçã estava no topo da árvore que ela é inalcançável e precisa ser colocada num pedestal.... o caminho é muito grande, do tamanho talvez da coragem que precisa resgatar em si mesmo, para se acreditar capaz de voltar a conquistar o que está em um patamar acima; ou seja, voltar a buscar a maçã do topo da árvore, que jamais aceitará qualquer coisa, ou deixará seu nível de exigência, uma vez que já teve ou sempre terá o melhor para si, não aceitando nada menos daquele capaz de proporcionar-lhe sua felicidade.” (Machado de A ssis)
Obs: Reduzi um pouco o texto para a postagem não ficar muito longa
///////
Machado de Assis em 1930 era rapaz e em 1950, um quarentão. Muito mais que isso, um grande escritor, o maior de todos os tempos do Brasil. Nem gosto de falar muito dele, pois para falar de Machado de Assis, é preciso entender sobre ele. Alguns acham que ele escrevia complicado, clássico demais, mas existiam outros escritores clássicos, porém não tão “complicados”. A verdade é que não alcançamos mesmo seu grau de inteligência poética. Mas o assunto é outro. Essa foi uma época sabidamente romântica, de cavalheirismo e gentilezas. E curiosamente e paralelamente, a mulher ainda era muito submissa. Vejo uma contradição, não no texto evidentemente, mas nas relação homem/mulher na época. Se os homens eram mais românticos e gentis e a mulher, submissa, a conquista deveria ser mais fácil, seja por causa do romantismo do homem, seja pela submissão da mulher ou pelas duas coisas em conjunto. Reparem no texto que o monstro Machado de Assis (até ele), com certeza já muito famoso e respeitado, fala da dificuldade do homem entender e conquistar a mulher. Na minha humilde opinião a mulher nunca foi submissa. Legalmente falando foi sim, não podia votar, etc, mas quando se trata de encantos, de relacionamentos, sempre exerceu domínio sobre o homem. Ou então era um falso romantismo dele e a mulher sabia disso. O domínio do homem também era falso, ele controlava a mulher, mas não a tinha, isso é muito diferente. Não é pela força física, por autoridade de leis, poderio econômico e até mesmo com falso cavalheirismo que se conquista alguém. Esse é um tema sem fim. De qualquer forma não é de hoje que “sofremos” com elas, mas o “trem é bão, uai?”. Vai entender.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O AMOR SEMPRE VENCE


( imagem clubekazam.atrativa.com.br- google )
Tinha tudo para ser uma viagem perfeita, programada meses antes. Alto verão, iam para uma casa de praia. Tudo tranquilo até então, vento no rosto, música, conversando, quando de repente, um estouro. "Ah não. O pneu", ele falou. "Desce, meu bem, preciso trocar". Desceram, ele foi até o porta-malas, virou, revirou. "Meu amor, o macaco não está aqui. Você não pegou na garagem?". Ela respondeu. “Ora, eu não. Estava ocupada preparando bolsas. Carro é com você. Você mesmo não diz 'deixa comigo'?". Ele retrucou. "Mas eu pedi para você pegar. E agora? Nessa estrada, sem conhecer ninguém". Indignada, ela falou. E agora, 'senhor' motorista? Estamos a pé e a viagem acabou". Ele não deixou por menos. "Culpa sua. Que arrumando bolsa nada. Se não ficasse arrumando esse cabelo por mais de uma hora, teria me ouvido". A discussão foi se acirrando sob o sol escaldante. " E daí? Não implica. Arrumo cabelo sim, gosto de andar é bonita mesmo". "Sim, bonita e a pé. Olha o tanto de gente vendo sua beleza", ironizou mostrando mato e árvores "Em vez de fazer piadinhas, podia pensar numa solução, senhor motorista. Eu sou a dama aqui", ironizou também. "Só se for a dama de ferro... rá rá rá. Dama da encrenca". "E você, o gênio dos motoristas. Fica ouvindo futebol e esquece do macaco. Homens! Quando vão usar o cérebro?". "Mulheres! Quando vão parar de se maquiar um pouco e pensar mais? Tomara que o sol derreta essa maquiagem toda, vai virar um 'espanta neném', rs rs". Ela riu com raiva e desdém. ". Meu problema se resolve com uma nova maquiagem. E você está se achando um gatão com essa barriguinha, com esse fisico de jogador... de purrinha. Quer saber? Não fale comigo para eu não ficar mais nervosa". Por fim, ele ponderou, abraçando-a. "Olha, meu amor, calma. Não vai adiantar a gente ficar brigando. Só estamos nós dois aqui, se a gente não se falar, vai ser pior. Vamos tentar uma carona, pedir ajuda a alguém". Deu um beijinho no rosto dela. "Te amo". Palavrinhas mágicas. Ela concordou com a cabeça em seu ombro."Também te amo. Nâo foi culpa de ninguém. Ansiosos pela viagem, um deixou pro outro e esquecemos do 'pequeno' detalhe do macaco". Ele desculpou-se. "Desculpe-me, fui áspero com você". E ela. "E eu fui uma dondoca mimada. Desculpe-me também". Mas a estrada era deserta demais, os poucos carros que passavam, passavam em alta velocidade. Horas e horas na tentativa, fazendo sinais para alguém parar. Ele pediu. "Meu amor, estou com sede, pega água pra gente?". Ela respondeu. "Boa ideia. Também, estou numa sede danada debaixo desse sol". Outra surpresa. "Ah, não acredito. Esqueci a vasilha com água em cima da geladeira. Só faltava essa". Antes que ela terminasse, ele pediu. "Silêncio. Está ouvindo?". "Ouvindo o quê?". "Um barulho de água lá embaixo. Tem um rio ali. Menos mal". Ela fez uma cara de nojo. "Vamos tomar água do rio?". Ele explicou. "Meu bem, não temos escolha. Além do mais, há varias horas não passamos por uma cidade sequer, então deve ser um rio limpo. Vamos? Me dê a mão para não escorregar". E desceram. Enfim uma bela surpresa. Ele foi logo falando. "Ora, que lugar bonito, meu amor. Nâo é só um rio, é uma pequena cachoeira. Água limpinha ". Ela se entusiasmou. "Isso é um pequeno paraíso. Vou tomar até um banho. Vamos". Trocou de posição, puxando a mão dele. Tomaram água e foram para o leito da cachoeira. Água na altura das cinturas. Divertiram-se brincando de jogar água no outro e disseram juntos, frente à frente. "Eu te amo". Alisando suas costas, ele disse. "Sabe por que tudo isso aconteceu? Pra gente parar aqui e fazer amor nesse lugar lindo". Ela sorriu sensualmente, cabelos molhados e boca chamativa. "É mesmo, meu Don Juan esquecido? Quais as suas intenções comigo?". Beijando seus lábios, ele respondeu. "As melhores possíveis. Duvido que você vá reclamar". E ela, mais provocante ainda. "Confesso uma coisa. Sempre quis fazer amor assim no mato". “Então o dia é hoje e a hora é agora’ respondeu beijando-a. E se amaram sobre as pedras. As cenas a seguir são proibidas para menores de dezoito anos e como eu não sei me expressar 'mais ou menos', melhor não começar. Já era noitinha e dormiram dentro do carro. E lá fizeram amor de novo sob o olhar da lua cheia. Logo de manhã, levantaram-se e com mais sorte, conseguiram ajuda. E partiram. Acabou sendo uma viagem perfeita.Porque o amor venceu mais uma vez.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O POETA E A FREIRA- NOVA VERSÃO


( imagem revishost.uol.com.br- google))
Recordando, terminou assim o outro texto: “Quero sim. Capricha aí nos sapatos, porque à noite tenho um grande evento literário". Enquanto o garoto engraxava, o cliente puxou assunto. "Tem algum convento aqui perto?". O engraxate respondeu. Tem sim senhor. A umas cinco quadras daqui". Corrigiu-se. "Estou maluco? Pra quê estou perguntando isso? Se antes era impossível, que dirá agora, tão comprometida que está? Ela é uma freira". E rapidamente desvencilhou-se da ideia de procurá-la. Por instantes lembrou-se de seu rosto desconcertado, sinal que ainda o amava. Ele só não sabia se ficava feliz ou triste com isso. Foi um dia longo aquele, dividido entre a ansiedade do grande evento e as recordações de um rosto que acreditava estar no passado. Às vezes o passado é mais presente do que o próprio presente. O grande teatro em forma de coliseu estava repleto e lindo. Os autores sentados entre a própria plateia, eram chamados um a um à frente para a premiação. Recebiam o troféu, faziam um curto discurso e desciam de volta aos seus lugares sob muitos aplausos. Um detalhe que ele observou é que todos estavam acompanhados de namorada ou esposa... menos ele. Isso por momentos o deixou triste, talvez ainda pelo reflexo do encontro inesperado durante o dia. Não, não era
hora de ficar triste, era hora de júbilo e felicidade. Nada poderia macular aquela noite. "É pela poesia que estou aqui, foi ela que me trouxe até aqui". Quando foi chamado, andou extasiado sob as palmas ecoando pelo teatro que tinha uma bela caixa de ressonância. Como todos, recebeu o troféu, fez seu discurso e voltou à cadeira. Após a premiação, um coquetel. Poetas bebericando, beliscando guloseimas nas bandejas, trocando informações, cumprimentos, ostentavam seus troféus. E claro, muitas fotos. Todos queriam registrar o grande momento. O fotógrafo oficial do evento ofereceu-lhe o serviço de fazer um álbum, ele não era diferente e prontamente aceitou. Terminada a sessão de fotos, o fotógrafo afastou-se. O poeta caminhou lentamente até o chafariz, ficou contemplando a água colorida que descia, admirando as flores, pensando sabe-se lá o quê. Poeta pensa o dia todo. De repente uma voz de mulher. "Posso tirar uma foto com o poeta?". Aquela voz era inconfundível. Não, não podia ser. Virou-se devagar. Era ela. Deslumbrante. Maravilhosa. Cabelos loiros, pouco abaixo dos ombros. Um lindo vestido vermelho longo com uma rosa branca do lado esquerdo. Lindamente maquiada. Faltou-lhe voz para responder. Ela insistiu. "Não vai responder? Posso ou não posso tirar uma foto com o poeta?". Respondeu com voz vacilante. "Bem...eu...é... quer dizer...pode sim, claro. Mas você aqui? Como conseguiu liberação no convento?". Ela aproximou-se mais e perguntou. "Por acaso estou vestida como freira? Não pertenço mais ao convento... pertenço a você. Como sempre pertenci. Beije-me logo por favor". Ele não pensou duas vezes. Um beijo que esperou anos, não aguentava esperar nem mais um minuto. E se beijaram. E como se beijaram. O chafariz colorido atrás daquele casal deu uma moldura perfeita ajudando a compor aquele quadro de amor. Depois de muitos beijos e abraços, a surpresa. O fotógrafo aproximou-se. "O senhor me desculpe, mas não resisti e tirei uma foto de vocês. Se quiser eu apago, mas não resisti à cena". O casal riu muito. "Mas o senhor teve uma grande ideia. Quanto pago por esse adicional?". E ele. "Paga nada. Essa vai ser de presente ao casal. Gosto de ver o amor vencer". E venceu mesmo. Casaram-se e dormem "juntinhos, pezinhos coladinhos, pijaminhas de bolinha".

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CAMINHO PARAO SOL


( imagem google )
Hoje afirmo com toda razão
misturada com emoção
que voltei atrás para olhar os meus passos
e vi que todos seguiam em sua direção.
Tem sido assim.
Tudo que faço segue nesse rumo
e agora não me acostumo
eu sem você, você sem mim.
Entreguei-me, confesso,
de tal maneira que agora lhe peço... ame-me sem fim.
Não se perca do meu olhar
esteja sempre onde minhas mãos possam lhe alcançar
Virou uma regra para meu viver
Meu peito só se alegra
quando posso lhe ver.

sábado, 21 de agosto de 2010

O POETA E A FREIRA


Ele, distraído lendo o jornal andando pelo calçadão, não percebeu a presença da freira, saindo do supermercado com sacolas e esbarraram-se, indo ao chão todas as suas compras. Pediu mil desculpas, se prontificou logo a recolher tudo, abaixaram-se juntos e num trabalho mútuo, toda a compra foi reembalada. Quando de repente cruzaram os olhares. Era ela. Um grande amor do passado. Olhou a boca que tanto beijara. O invólucro, a redoma de freira, não escondeu sua beleza. Atônito, perguntou. "É você? Como vai?". Ela também o reconheceu. Pálida e trêmula, levantou-se. "Com licença, senhor. Estou atrasada". E saiu em disparada com os dois volumes nas mãos. Ficou observando-a se afastar num fio tênue de esperança de que no final da esquina olhasse para trás, como antigamente. Todas as vezes que brigavam ela olhava para trás. Mas ela não era mais como aquela estrelinha que voltava todas as noites. Foi morar em outro universo. Uma pergunta era inevitavél. "O que ela teria feito nesses doze anos passados?". A resposta lhe veio imediata. Com certeza, muitas orações, obras de caridade e devoção. Como se diz no meio popular religioso, 'casou-se com Jesus Cristo'. A pergunta voltou para si mesmo. E ele, o que teria feito nesses doze anos? Outra resposta imediata. Fazendo poemas para ela. Muitas vezes é assim. A musa é musa até sem saber. É incrível a força do amor. É mais forte do que a gente, por isso às vezes dá medo. Não podemos lutar contra uma força que não podemos conter. O amor nunca morre. Fica guardado no fundinho da última gaveta do coração. basta um simples olhar para explodir de novo. E não adianta jogar a chave fora, o coração tem porta automática. Parado em pé naquele calçadão, fechou os olhos e mergulhou num mundo de recordações. Lembrou-se do primeiro beijo no rosto dela, segurando suas mãos dentro do ônibus, depois de certificar-se de que ninguém estava olhando. Do primeiro beijo na boca. Dos pedaços de pizza que punha na sua boca. "Coma tudo. Você precisa ficar forte". Como se estivesse cuidando dele. Das longas conversas e das brincadeiras na praça. Do velho sentado tentando ouvir o que falavam e eles rindo disso. Do champanhe que ele todo atrapalhado derramou. Tudo aquilo agora estava sufocado sob uma vestimenta de freira. Não sei por que as pessoas gostam de sofrer caladas. É mais cômodo que lutar. Sufocam tudo dentro de si e saem rindo por aí. Eu não sei fazer isso. Posso até sufocar, mas não vou rir. Nâo sei sorrir sem motivos. A vida não é uma simples fotografia. "Vai graxa ai, doutor?". A voz do engraxate o interrompeu, trazendo-o de volta do mundo de lembranças, o mundo onde habitam os sonhos impossíveis. Olhou para o pirralho e viu de novo o mundo real à sua frente. Olhou mais uma vez para a esquina vazia. E penitenciou-se. "Para quê ficar recordando as coisas se elas não voltam? Que mania tola é essa de chorar duas vezes? Uma não foi o bastante?". As pessoas fazem opções, arrependam-se ou não, precisam ser respeitadas. Aquietou todas as lembranças, colocou-as de novo na gaveta e voltou-se para o engraxate.
"Quero sim. Capricha aí nos sapatos, porque à noite tenho um grande evento literário",
Ele também estava casado... com a poesia.

///////////////////////////////////

VOCÊS FIQUEM AÍ NA CIDADE GRANDE QUE EU ESTOU INDO É PRA ROÇA. UM ABRAÇO A TODOS. BOM DOMINGO

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O OCASO NÃO É UM ACASO


( imagem br.olhares.com )
Esse céu dourado
fingindo ser dia, fingindo ser noite
Causando-me o açoite
da sensação de solidão.
O sol desce o horizonte
meio triste por não querer ir
refém de uma força maior
ele sabe de cor, não pode resistir
nem vai olhar para trás
e meu coração tantas perguntas faz... e fará:
será que ele não olha para não ter saudades
ou está certo de que voltará?
E eu... devo chorar pelo que fiz
ou pelo que não fiz?
As sombras da noite engolem
envolvem... mas, não resolvem.
As incertezas ficam no ar,
a angústia, o afã,
nem sei se vai ter um amanhã.
Só sei que o ocaso não é um acaso,
precisamos passar.
Acontece que a natureza é sábia
e permite a si mesma um novo dia
a cada vez que o sol vai embora,
mas, na vida é diferente;
quando a gente desce o horizonte
não tem mais amanhã...
não tem mais aurora.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AMIGOS FIÉIS


( imagem google )
Gustavo, professor de química era muito gente boa. Meio paizão, dava conselhos, adiava provas para estudarrmos mais, às vezes saía com a rapaziada após a última aula. Na sexta liberava quinze minutos de piada, “para aliviar a semana”. Isso era muito engraçado. Como todo bom paizão, era durão quando precisava, detestava mentiras e chegar atrasado só para quem trabalhava. Durante as explicações nada de conversa. Casalzinho de namorados flertando dentro da sala, ele brigava. "Tem um motelzinho baratinho ali na esquina. Aqui é lugar de estudar". Dizia isso de uma forma dura, mas também engraçada, de maneira que as pessoas não ficavam constrangidas. O que ele detestava mesmo era o tal cordão fedorento, o famoso "pum alemão" ( desculpem, mas tive que citar o nome). Eu tinha raiva daquela coisa nojenta também. Sabíamos quem eram os dois ou três rapazes que acendiam, mas ele nunca pegava. Só avisava. "Já falei para parar com isso. No dia em que eu estiver da pá virada, vocês vão ver comigo. Quem ri agora, chora depois". E esse dia chegou. Deixou cair a enorme régua na mesa. "Pronto. Vocês conseguiram. Quem acendeu o cordão, seja homem, faz favor de sair da sala e vá direto para a diretoria". Nenhum movimento. "Vamos, estou esperando". Ninguém se mexeu. Depois do recreio tinha outra matéria e a última aula seria de novo a dele. Com a careca vermelha de raiva, falou. "Na volta se não aparecer quem acendeu essa droga, vou ajeitar uma punição para a classe toda. Portanto, quem sabe me aponte e evite dos justos pagar pelos errados. Prejuízo é de vocês. Ainda não sei o que vou fazer, estou indo agora falar com o diretor". Passou o recreio, a terceira aula e ele voltou. "Já apareceu o engraçadinho?". Ninguém abriu a boca. Andou entre as cadeiras, parou na frente e disse. "Ok. Se não apareceu, hoje não tem mais aula. Não achem isso bom porque a matéria que ia dar hoje vai cair na prova de sexta-feira e em vez de trinta questões vão ser cinquenta. E dessa vez não vai ter alívio". Alguém reclamou. "Prova? Você nem avisou da prova". Ironizando, respondeu. "Pra reclamar vocês abrem a boca. Mostre onde está escrito que professor precisa avisar que vai dar prova. O aluno tem que estar sempre pronto. E isso não é nada, esperem chumbo grosso aí. Vou perder duas noites de sono pensando num jeito de ferrar todo mundo. A não ser que me apontem o engraçadinho até sexta. . Chegou a sexta-feira, por coincidência, 13. Ele já entrou assim. "Hoje é o dia do azar de todo mundo aqui", já colocando as provas sobre as cadeiras. Ô provinha difícil. Na última aula passou tanto exercício no quadro sem dar uma palavra. Os exercícios deram umas quatro folhas no caderno. Faltando uns minutos para acabar a aula, começou. " Já vi que não vão apontar o infrator. Nesses dois dias, estudei várias punições. Não tolerar atrasos, não sair mais com vocês, dar provas de última hora e até não dar mais aula para vocês. Modéstia à parte e graças a Deus, sou um professor conceituado, tenho várias propostas de colégios. Moro sozinho, não tenho um pinto pra dar água. Pra mim tanto faz estar aqui ou acolá. Não nego que fiquei decepcionado com vocês no início. Nesses dois dias pensando em punição, também cheguei à uma conclusão. Vocês são uns moleques...". Deu uma pausa e completou. "...mas estou muito feliz. Porque nessa turma não existe dedo duro. Eu odeio dedo duro. Dedo duro é uma coisa tão feia que a gente chama de Judas. Amizade fiel é uma coisa que prezo muito. Vocês estão de parabéns. Essa é a melhor turma com a qual já trabalhei. Acabou a aula e hoje a cervejada é por minha conta". Grito geral. Na roda de cerveja, Gérson, levantou-se, pediu a palavra, confessou e pediu desculpas à turma e ao professor. E as aulas continuaram uma festa.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

OS POEMAS QUE LHE FIZ


( imagem google )
Os poemas que lhe fiz
sem mais compromissos falavam do belo,
De um interesse singelo de lhe fazer feliz.
Um sorriso valia um poema, você era o tema.
Falavam do sim no olhar
da rendição de um coração
ao irreal, a um sonho anormal, a uma doce ilusão.
Não previam a amargura do fel,
diziam muito com a doçura do mel
de um amor bonito, abstrato, mas infinito
como a própria imaginação dos poetas.
E sem mais metas, só queria lhe fazer feliz
nos poemas que lhe fiz .
Não lembravam as gaiolas, e sim
a liberdade dos passarinhos,
de um coração que voou muito alto, buscando o inatingível
sem saber que estava acostumado ao chão.
Não previam uma noite escura, e sim
de estrelas reluzentes
e em cada amanhecer um sol brilhando pra gente.
não falavam de desertos, mas sim
de paraísos abertos pra gente ser feliz.
Era isso que pregavam os poemas que lhe fiz.
Poemas, essência de minha alma...
Porém a alma do poeta em sua bela e frágil estrutura
tantas vezes, tantas tolices vem dizer.
Ora, ora, poemas são apenas devaneios
porta-vozes da alma, e dela
são armas, são escudos
são reflexos, são argumentos
são coisas de momentos.
E a paixão é um fogo ardente, queima de repente.
Mas, não se preocupe, musa inspiradora
meu tema, meu dilema
o fogo da sua insensatez não queimou a raiz
dos poemas que lhe fiz

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MENINOS E PASSARINHOS


( imagem google - peregrinacultural.wordpress.com )
Vou mudar o nome do menino. Pedro era um amiguinho entre os tantos da infância. Era de família rica. Tirando o horário da escola, brincávamos até umas dez da noite. Bola, pique, queimada. Menos Pedro.Vez ou outra a mãe até deixava, mas quase sempre ficava no meio fio sentado olhando a gente. Nas poucas vezes em que brincava, tinha que sair no meio da brincadeira porque a mãe gritava da janela que hora do chá das cinco. Eu via que ele saía frustrado. O pior de tudo era jogar bola de chinelos. Isso mesmo, jogava bola de chinelos. Nós, meninos levados, às vezes o desviávamos. E tome castigo severo. A gente ir na casa dele era quase impossível. Até que eu ia, mas nunca me sentia à vontade lá. Enquanto minha casa parecia uma creche. Certa vez esse menino sumiu por dois dias. Rebuliço geral no bairro. Gente nas ruas, polícia, bombeiros buscando na orla da mata e no rio. Os pais desesperados, claro. A mãe mais ainda. Revirando suas coisas, a mãe viu um bilhete onde ele dizia que ia embora porque não aguentava mais ser preso, não brincar com seus coleguinhas e ter que fazer tudo certinho. Nós todos, sentados no meio fio, igualmente preocupados e curiosos, quando um policial teve a ideia de nos perguntar, se não sabíamos o paradeiro do amiguinho, algum lugar onde ele pudesse estar escondido. Um dos amigos perguntou. "Carlos... e se ele estiver na nossa caverna?". Sim , a gente tinha uma caverna, lá longe perto do areal. O policial perguntou. "Onde fica essa caverna? Levem-me até lá". Eu falei. "É longe, hein?". Olhando pro guarda gordão, duvidando que conseguisse nos acompanhar. Seguidos pelos policiais, lá fomos nós, empenhados em achar nosso amigo e orgulhosos disso. E não deu outra. O guarda reclamou mesmo. "Andem devagar, meninos. Não sei onde menino arranja tanta energia". Chegando lá, entramos pelo enorme túnel de mato que fizemos até chegar na caverna. E não é que Pedro estava mesmo lá? Com um lençol, algumas embalagens vazias de biscoito e umas garrafas d'água. Levou um susto, mas não tinha como fugir. Resumindo, os policiais conversaram calmamente com ele. Só que ele meio que impôs uma condição. "Eu volto para casa, se minha mãe me deixar brincar com meus amigos, jogar bola na chuva, brincar de pique, colecionar birosca, fazer tudo tudo. Quero ser igual meus amigos". O recado foi dado à mãe logo após a comoção do reencontro. A partir dali tudo mudou. A casa dele virou uma bagunça de meninada, ele passou a ter o dedão do pé machucado igual os nossos e virou um campeão de birosca. Nem por isso deixou de ser o melhor aluno da escola. Me lembro do policial dizendo à mãe. "Menino é igual passarinho, não pode prender". Concordo, meninos são como passarinhos e sentem necessidade de voar. Passarinho na gaiola canta é de tristeza. Por isso, sempre estou dizendo aos meninos de hoje: "Brinquem muito, porque isso passa e não tem volta".

Uma pequena nota paralela. Um dia, na queimada contra meninas, deixei uma me queimar, só para ganhar um beijinho. Vejam a pureza da época. O beijinho não passou de um selinho meio alongado, mas para mim foi um grande feito. Até dormi pensando no "grande beijo". Bons tempos em que a gente podia voar. A palavra "droga", nem era citada no meio da gente. Era muito bom ser passarinho.

domingo, 15 de agosto de 2010

BOM DOMINGO....


(imagem google )
Estou meio preguiçoso hoje. Hoje não vou postar. Desejo bom domingo a todos. Sejam felizes e fiquem com DEUS!!!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MIMOS DE DEUS


( imagem google )
Tão linda é a cachoeira
exibindo sua cabeleira
inundando de beleza meu olhar.
Como não admirar?

Tão graciosas as borboletas
de mil cores e facetas
bailando sobre os jardins
namorando os afins.
E eu estou muito afim...
de ver o sol rodeando o girassol
de soltar o passarinho que há em mim.
Eu tenho asas
quero morar na casa daquele anjo querubim.

Ah! A noite!
A lua e as estrelas, adornos noturnos
numa perfeita parceria, dançam em sintonia
e me fazem esquecer pesadelos diurnos.
E eu faço uma poesia.
Não, não faço. Apenas retrato, desenho um retrato,
repasso para o papel
a poesia pronta que vem do céu.
A cachoeira, o sol, a lua, o poeta e a borboleta...
mimos que Deus fez para enfeitar o planeta.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

AMIGOS

AMIGOS. ESTOU COM DIFICULDADES NA NET. DESCULPEM-ME TODOS. VOLTO EM POUCOS DIAS. UM ABRAÇO A TODOS

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ECOS DE UM POETA


( imagem google )
"Do pó viestes, ao pó voltarás", diz uma profecia muito séria
mas refere-se somente à matéria
flutuando sobre a terra ficarão as palavras, malditas e benditas
e também as escritas.
Ficará a saudade de quem souber deixar
ficarão os passos de quem souber pisar.
Os amores, as alegrias, os dissabores.
Ficarão o perdão dado e o perdão negado.
O sorriso espontâneo e o forjado
Ficará a lágrima salgada, a doce gargalhada
as curvas, as subidas e descidas da estrada.
O olhar sincero, o olhar de lado, o olhar cabisbaixo.
O olhar sonhador, o olhar fingido.
Tem que saber viver para ter sentido.
Sim, só o corpo vai lá para baixo,
pois todos os atos e omissões serão lembrados
os sucessos, os fracassos, os abraços;
que sejam então todos os momentos valorizados.
Cada um com sua luta, com sua guerra
Do pó eu nasci, a ele voltarei, determina a profecia
mas enquanto estiver sobre a face da terra,
vou fazer poesia.
Que ela seja lembrada como meu encanto
Ainda que não por todos os cantos, que ela ecoe
Meu corpo pode até ficar inerte,
mas que ela voe.

domingo, 8 de agosto de 2010

O VERDADEIRO HERÓI


Não é o Tarzan, nem o Superman
nem o Shazam, nem o Aquaman. Tampouco o X-man.
A segurança que me acompanha não
vem do Homem-Aranha.
Nem vem do Homem Morcego, o melhor aconchego.
Não é ao Zorro, que solto meus gritos de socorro,
nem a qualquer outro cowboy.
Não é Príncipe Submarino quem me socorre.
O tempo passa, o corpo morre, isso é coisa do destino
mas uma certeza de mim não sai
o verdadeiro herói de um menino
é o seu próprio pai.

//////////////////////////
FELIZ DIA DOS PAIS A TODOS, ESPECIALMENTE OS PAIS BRASILEIROS. É MUITO DIFÍCIL SER PAI, SER PAI BRASILEIRO É MUITO MAIS.

sábado, 7 de agosto de 2010

AVENTURAS DO CARLOS- QUEM É O MAIS BONITO?


( imagem google )
Marcelo vivia me desafiando. Na birosca, no botão, quem fazia mais embaixadinha, quem era melhor nas charadas do "o que é o que é". No futebol. Nada de rivalidade, era uma disputa sadia. Eu o achava muito inteligente e ele me achava criativo, astuto. E nessa criatividade eu ganhava mais que perdia. Na escola ele era melhor, passava quase sempre já no terceiro bimestre enquanto eu sempre ia às últimas semanas. A gente foi crescendo e as disputas continuavam. Quando rapazotes, íamos ao centro de ônibus só para ter o gosto de descer pela porta de trás, sem pagar. Lévavamos dinheiro, por via das dúvidas. Um dia quase nos demos mal. Teve ideia de irmos sem dinheiro. Eu já havia descido, o motorista percebeu e o prendeu na porta. Sorte que sempre foi forte, conseguiu abrir a porta e pular. Essa nunca mais fizemos. Disputavámos até quem era o mais bonito ( como se fôssemos bonitos). Parávamos as garotas e até pessoas mais velhas, sérias nas ruas para perguntar: "Quem de nós é o mais bonito?". Eu até acho que era ele. Alto, elegante, gostava de andar alinhado, cabelo baixinho, roupa social. Eu fazia o estilo casual, desprendido, jeans, tênis, nunca gostei de nada me prendendo. Em tempos de John Travolta e brilhantina, eu usava cabelo ouriçado. Dois antagônicos que se davam muito bem. Acho que no fundo ele queria ser igual a mim, era de família tradicional e invejava um pouco minha liberdade, mas era uma inveja boa. Nessa disputa do mais bonito, me desafiou a ver quem ganhava mais beijos das meninas na escola, durante uma semana. As regras: 1) Tinha que ser menina desconhecida. 2) Ser honesto na hora de dizer o total de meninas beijadas. Não sei as artimanhas dele para convencê-las, das minhas lembro de algumas. "Olá,sumida". Respondiam. "Sumida? Como assim, se nem te conheço? E eu. "Nâo conhecia,agora
conhece.Prazer, meu nome é Carlos". E já ia dando beijinho. Ou essa que nunca falhava. "Você é da quinta série? A menina. "Não. Sou da sétima. Eu com meus dons poéticos, elogiava. "Mas não parece. Parece menininha de quinta série". As mulheres adoram quando abaixamos a idade delas. Só que essa ele ganhou disparado. Beijou 32 e eu só 15. Tentou me gozar, mas não deixei. Você só ganhou porque enquanto beijava as suas apressadamente, só pela disputa, eu estava conquistando as minhas 15, peguei telefone de quase todas elas e estou quase namorando a Elaine. Ele deu um grito. "O quê? Aquela gostosona?". Eu ri. "Sim, seu bobão". E ele. "Pôxa, você não tem jeito. Considero que ganhou de novo, beijei 32 e não peguei ninguém". O namoro com Elaine não durou muito, ela enjoou, me pôs na marca do pênalti e meteu o pé. Mais uma vez veio o Marcelo me gozar. De novo, não deixei. "Fui eu quem fiz ela terminar. Fiz raiva nela. Além do mais namorar mulher bonita é complicado, fica todo mundo olhando para ela". Meio rindo, meio indignado, falou. "Não tem jeito com você. Nunca aceita que perdeu, hein? A menina mais bonita do colégio e agora vem dizer que forçou pra ela terminar". Eu dava boas gargalhadas. Era por causa de minha facilidade de argumentar é que sempre ganhava dele. Marcelo é meu amigo de coração. Hoje mora na Austrália. Sempre que pode me liga. Há mais ou menos um ano, disse no fone. "Não me acho mais tão bonito, Carlos. Estou gordo, tomando muito chopp". Aproveitei para zoar. "Então você perdeu de novo, porque eu estou lindo e maravilhoso". Riu. "Você não muda, né? Sabia que ia dizer isso. Por isso a gente era tão amigo. Seu otimismo e astral contagiavam". Dentre as recordações, citou o caso do ônibus. " "Pôxa, que maluquice. Eu ia ser preso". Falei. "Ia nada. Eu estava com dinheiro na meia. Eu ia entrar no ônibus e pagar". Ficou surpreso. "Sério?". "Claro", respondi e completei. " Eu não era tão corajoso assim. Malandro é o gato que já nasce de bigode, não toma banho e só anda limpo". No final da ligação, disse. "Um dia vou aí para a gente fazer uns desafios. Topa?". Respondi. "Não, acho que não. Sou um cara comportado agora. Ainda sou um gato, mas não tão astuto".
Essa foi mais uma de minhas aventuras da minha pseudo louca juventude.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

JANELAS FECHADAS


( imagem google )
Por que cantas seresteiro
debaixo de uma surda janela?
Não é mais tempo de Rapunzel e Cinderela.
Quem te ouve são só as estrelas irmãs
que se apagam pelas manhãs
e te devolvem esse açoite
até que chegue outra noite
pra cantar teus anseios e devaneios
de formas vãs
Ficarás rouco, louco ao som dessas cordas
e ela não acorda por mais que a música seja bela,
por mais que a música seja pra ela.
Por outro lado não te condeno, violeiro
Não és o primeiro,
a teimosia não é um defeito só teu.
O poeta também é assim,
escreve linhas para um amor que não viveu.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SEMANA DOS PAIS- MEU PAI


( imagem belasmensagens.com.br )
ESSE TEXTO É UMA REPETIÇÃO
///////////////////////////
Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Deve ser porque convivemos pouco. Quando faleceu, eu era muito novo. Morreu com sessenta e três anos. Mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Sim, desde criança vivi tudo intensamente.Tenho uma memória afetiva incrível, sempre guardei tudo que vivi e ouvi. São tijolos na construção do meu ser. Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Ele gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Era pai à moda antiga, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia para beber, comer e tocar sanfona e violão. O fiel cachorro chamado ‘Famoso’, debaixo do sofá. Se gabava. “Ihhh, esse menino já lê qualquer coisa. Sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. Mas isso não era o mais engraçado. Me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava. “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. Eu ainda punha os dedos apertando o nariz pra ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Aquele cenário ficou na minha retina e no meu coração. E ele simplesmente detestava Roberto Carlos. Claro, porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois fui lendo essas canções e fui vendo verdadeiras poesias, obras primas mesmo. Mas com tendência muito maior para o rock que era muito forte. Quando morreu, não tive de imediato a ideia exata do que era a perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Na cama de minha mãe tinha apenas um travesseiro. Assim entendi, porque Famoso durante o velório uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que minhas irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora, se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Acho que se cansou de esperar. Um novo cenário se desenhava para mim... e meu pai não estava nele. Os anos passam e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você. Obrigado, meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você. Valorizar as coisas na mão, não lamentar as perdidas. Chorar se preciso, mas levantar a cabeça. Ser humilde, não humilhado. Brincar, mas ter responsabilidade. Respeitar os mais velhos. As coisas ruins peguei do mundo mesmo. Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada e quando estou numa roda de viola, peço para tocar as suas caipiras. E as pessoas acham incrível como eu sei todas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SEMANA DOS PAIS- AINDA BEM QUE AS PAREDES NÃO CHORAM


( imagem falamaissobreisso.wordpress.com )
Meu pai era bem severo, à moda antiga mesmo, mas também tinha discernimento para pesar e analisar as situações. Certa vez eu e uns amigos brincávamos de "pau na lata". Outros amigos compunham uma pequena plateia. Alguns até torciam. Num dado momento o cabo de vassoura escapuliu de minhas mãos e voou longe indo parar na testa de um menino menor. Ele nem esperou socorro de nossa parte e saiu correndo para casa com a testa meio sangrando e bastante inchada. Mesmo não tendo culpa, corri para minha casa também e me escondi debaixo do cobertor fingindo dormir. Não demorou e chegou o menino puxado pela mãe. Bateu palmas. Minha mãe fazia almoço, restou ao meu pai atender. A conversa foi mais ou menos assim. "Pois não, dona Geralda". Ela nem cumprimentou, já foi cuspindo fogo pelas ventas como um dragão. "Olha o que seu filho fez com o meu. Arremessou um pau na testa dele. Veja o tamanho do ovo ( caroço) que ficou.". Meu pai que era meio gozador, respondeu. "Ovo? Isso dá uma omelete". Foi o bastante pra ela apelar. "Por favor, senhor Glicério. O senhor não vai brincar agora, né?". Ele se redimiu. "Desculpe. Posso fazer alguma coisa? Está precisando de algum remédio?". "Não, remédio não. Já fiz umas compressas de vinagre, sal grosso, gordura de galinha, daqui umas horas passa. Só queria que o senhor tomasse alguma providência com seu filho. Quase cega meu menino". Ele. "Pode deixar, sem uma boa surra ele não vai ficar". Pegou umas varas no jardim e emendou. "A senhora, fique aí por favor". Foi ao quarto, levantou o cobertor e cochichou no meu ouvido. "Quero que grite e pule bastante". Me levantou, levando para o canto da parede e começou. "Toma, menino levado. Toma.Toma. Pra nunca mais fazer isso". E eu pulando, gritando alto. "Não pai, por favor. Não bate mais. Prometo, juro que não faço mais, pai. Ai. Ai. Ai.". E tome lambadas e mais lambadas impiedosas. Dona Geralda gritou de lá. "Seu Glicério. Deixa isso. Não é para tanto". E ele nada. Continuou batendo forte e eu berrando. Quando terminou, gritou. "Fique aí de castigo até o fim da tarde. Hoje não brinca mais" Chegou à porta. "Pronto. Esse não apronta mais". Parecendo arrependida e assustada, ela ainda falou antes de sair. "Obrigada. Mas acho que o senhor exagerou. Eu não queria isso. Não era pra matar o menino". Mal sabia ela que ele estava batendo é na parede. Eu apenas pulava e gritava colaborando na encenação. Lembro-me da cena, ele indo ao fogão, onde minha mãe dava risadas, pegou um pedaço de carne queimando a mão e disse. "Acha que vou bater no meu filho por causa dos outros?". Ri por dentro. Aliviado, seguro, orgulhoso pela criatividade do meu pai, mas acima de tudo, pela segurança que me passou ali. Ele podia ser severo, mas não injusto. E não ter me batido talvez tenha me ensinado mais do que se tivesse batido.

Bem, até que meus irmãos e irmãs mais velhos apanharam um bocado, mas meu pai nunca me bateu. De minha mãe só levei uma surra. Pensando bem rs rs... acho que devia ter apanhado um pouquinho. Talvez eu não seria tão ... tão... tão assim. Ah, vou dizer: dengoso.