ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO... POÉTICA


Tudo que move
respira,
transpira ,
nspira,
conspira
para que eu faça mais uma poesia.
É assim que eu levo, que eu relevo
que eu elevo o meu dia.
Mas para o poeta, fala até a pedra que não se move,
até as pessoas que se vestem de pedras, e um dia já foram flores.
Em tudo ele se comove, em tudo ele vê amores.
Na montanha, no girassol, no nascer e no por-do- Sol ,
cada qual com sua particular beleza
com seu jeito único de ser e acontecer.
O poeta também faz parte dessa natureza,
e por isso não para um segundo,
pois faz parte dos adornos de Deus
enfeitando os jardins do mundo.
Essa é minha alegria...
Tudo conspira
para que eu faça mais uma poesia.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O PASSAGEIRO 21


Ela chegou carregando a pesada bolsa com dificuldades para colocá-la no compartimento, ele levantou-se para ajudar, e ela pôde sentir o perfume gostoso que o passageiro da poltrona 21 usava, isso a agradou, pois ocuparia a 22, seriam companheiros de viagem. Depois do agradecimento, sentou-se ao lado dele que logo iniciou a conversa: “ Vai para o Rio?”. Ela: “Não. Para uma cidadezinha que fica uma hora antes do Rio, estou em férias, e vou para casa de meus pais”. Deu uma pausa, e quis saber também: “E você?”. Ele: “Vou para Esperança, cidade pequena também, mas duas horas depois do Rio, também estou em férias”. E emendou outra pergunta: “ Vi que é médica, percebi alguns aparelhos na bolsa aberta”. “Ainda não sou médica, estou no terceiro ano”. “Médicos nunca param de estudar, não é? A ciência, a medicina em si, é dinâmica”. Ela disse: “Acertou em cheio, mas não reclamo, afinal, é a profissão que escolhi”. Sutilmente, ele investiu: “E com tantos estudos, tem tempo para o amor?”. Ela riu: “Já sei, você quer saber se tenho namorado... não, não tenho, talvez até por isso mesmo. E você, também está indo para essa cidade para ver os pais... ou a namorada?”. Ele riu também: “Não tenho também. Escritores têm tendência à solidão. Nem sei se isso é bom ou ruim, mas também nunca parei pra pensar, acho que já me acostumei sem perceber. Gosto de ser poeta, crio um mundo só para mim e dou a ele o rumo que eu quero. Não conheço muito o mundo externo. Agora pretendo escrever um romance, e para isso preciso da tranquilidade de uma cidade pacata, talvez até vá para as montanhas, um romance demanda tempo, é um texto de ideias extensas, ao contrário de poemas que são breves, vai ser uma experiência nova para mim”. “Oh, que honra conhecer um escritor! E como será esse romance?”. Ele respondeu: “Bem, ainda não tenho uma ideia central, mas com certeza terá um casal apaixonado”. E ela: “Hummm... estou começando a gostar dessa conversa, sou muito romântica. E você nunca amou? Desculpe, mas senti um amargo em suas palavras, embora tente passar uma imagem tranquila, sinto que algo o incomoda” . Com voz em tom grave, ele respondeu: “Isso foi há muito tempo. É passado”. Ela: “Desculpe-me por tocar em algo assim”. Ele a tranquilizou: “Não se preocupe, lido com isso facilmente. E você, já amou?”. “Fui noiva, mas vamos mesmo mudar de assunto? Não vale a pena lembrar essas coisas. Vamos falar mais da gente, de seus livros, de minha carreira de médica, de nossas famílias”. E falaram muito, de si, de planos, de música, de cinema, teatro, de sexo, e até de possíveis futuros amores, o que fazia a conversa ir ficando cada vez mais íntima e mutuamente interessante. Quase 01h da madrugada, ela disse: “Desculpe-me, agora o sono pegou, preciso dormir um pouco”. E ele: “Claro, ainda teremos muitas horas para nos falarmos”, e ofereceu: “Quer dividir comigo meu cobertor? O ar condicionado está gelado”. Ela olhou de pertinho os olhos dele: “Quero sim. Você é muito gentil. Custo acreditar que esteja sozinho”. Ele devolveu o elogio olhando os lábios dela: “E eu custo a acreditar que uma mulher linda, simpática e inteligente, esteja sozinha”. Percebendo o “perigo” de um beijo, ela afastou o rosto dizendo boa noite, ele respeitou. Lá pelas tantas, de sono pesado, sem perceber, ela pendeu a cabeça para o ombro dele, claro que ele gostou, até aconchegou-a melhor, mas o escritor não resistiu, alisando o rosto da moça com o dorso da mão com toque tão suave, que nem parecia tocar. Mais alguns toques, ela acordou: “Foi minha impressão ou senti sua mão no meu rosto?”. “Sentiu sim... me desculpe, não resisti vendo seu rosto tão branquinho à luz do luar”. “Por que pedir desculpas se eu estava gostando? Mas pensei que estava sonhando”. Segurando o rosto dela, ele disse: “Não é sonho, somos reais. Quer ver?”. E beijou-a. Beijaram-se demoradamente, numa entrega total como se estivessem se despedindo da vida... ou nascendo para ela. Depois de muitos outros gulosos beijos, num gesto mais ousado, ele fez a mão da moça deslizar até sua cintura, ela pôde sentir sua virilidade, e disse com voz arfante: “Ai, não faça isso. Não me provoque”. No mesmo tom, ele respondeu: “Eu já estou provocado”. Ela querendo e não querendo recusar, disse: “Estamos dentro de um ônibus e ainda nem nos conhecemos”. Ele retrucou com sussurros ao ouvido: “Estamos justamente nos conhecendo nesse instante. O ônibus está quase vazio, todos dormindo, vamos para as últimas poltronas”. Depois de alguns “nãos” indecisos, ela aceitou... e se amaram deliciosamente na parte traseira do ônibus... uma... duas... três vezes. E dormiram abraçados. Beiravam as 08h da manhã, ela acordou assustada, vendo o ônibus sair da rodoviária: “É aqui que preciso ficar, é minha cidade”. Gritou: “Motorista, motorista, por favor pare aí, preciso descer”. Enquanto o ônibus parava, de pé, olhou para o escritor, quase sem palavras, ainda assustada: “Não sei o que dizer. Desculpe, preciso ir. A gente se vê qualquer dia. Não me esqueça”. Ele pediu: “Não vá. Vem comigo para as montanhas”. Com olhos tristes, ela respondeu: “Ai, não posso”, e olhou para o motorista que gritava impaciente: “Moça, se vai descer, ande depressa, estamos atrasados”. Num beijo curto, despediu-se: “Foi lindo!”. E partiu. Ele nunca mais a viu, mas teve certeza que ali começou a escrever seu primeiro romance. Desde então, criou um hábito, sempre que fazia o mesmo percurso, comprava sempre a poltrona 21, na esperança de que a moça da 22 aparecesse. Ela jamais apareceu, mas como ele mesmo disse à ela ( crio meu mundo e dou a ele um rumo que eu quero), no romance que escreveu, eles se reencontraram numa daquelas viagens, casaram-se e foram felizes para sempre.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DESAPEGO


Estou aprendendo a dizer adeus
a tudo que é inútil, fútil, vazio,
a tudo que não me desperta cio
Não quero nada que seja oco, pouco, ou frio
porque tudo em mim é tesão, é gula, é ação.
Estou me livrando de tudo que não me serve
que não agita, que não excita, que não ferve o meu coração,
que não me deixa em erupção,
porque faço uma flor virar vulcão.
Estou aprendendo a dizer adeus
a quem não ama, a quem não me chama
a quem não tem a chama para o meu estopim.
Estou aprendendo a esquecer quem não se lembra de mim,
porque tudo em mim é presença, é hoje, é agora, é SIM.
Estou aprendendo a dizer adeus
a quem não me completa
quem não percebe meus tantos “ EUS”
que se fundem num só... nesse “Eu Poeta”.
Estou aprendendo a desatar o nó.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A LENDA DO BEIJA-FLOR DE UMA FLOR SÓ.


Li uma vez que toda lenda tem um fundo de verdade, e toda verdade tem um fundo de lenda. Não sei dizer se toda verdade tem um fundo de lenda, mas na primeira opção, acredito sim. Uma pessoa muito entendida disse-me que o autor sempre coloca um pouco de si nos textos e poemas, e por mais que ele tente disfarçar sempre há algo nas entrelinhas, e talvez ele nem tente disfarçar, coloca de propósito mesmo suas idéias, sensações e opiniões. Essa é a breve LENDA DO BEIJA-FLOR DE UMA FLOR SÓ, tão breve quanto ele próprio.
Era uma vez, num reino, esse sim, muito, muito, muito distante mesmo, que nem existia no mapa, havia um Beija-Flor, muito lindinho, coloridinho, serelepe, encantador como todos de sua espécie. Sobrevoava os jardins, beijava as flores com afinco, dedicação e amor, assim como todos de sua espécie também, mas esse era um Beija-Flor diferente, as flores o amavam pelo seu jeitinho diferente de lidar com elas, ele não era só aquele passarinho que sugava o néctar delas, ele parecia ter um docinho no bico também, e assim, seus beijos não eram sugadores, eram uma troca, uma reciprocidade, um dar e receber mútuo. É claro que havia um certo ciúme entre as flores por causa do príncipe dos jardins, mas no fim, elas entendiam, pois sabiam que era da natureza dele esse beijar constante, esse ir e vir de manhãzinha e tardezinha, além do mais ele beijava a todas por igual, sem distinção, ele sabia que precisava do néctar de todas. Seria um Beija-Flor Don Juan? Não, ele não fazia por mal, era a sina de Beija-Flor que o tornava tão irrequieto, inconstante, sem fixar lugar. Num belo dia, ou num feio dia, ele desapareceu, ficou várias semanas sem ser visto nos jardins, e todos se preocuparam. A joaninha, as borboletas, os outros passarinhos, se perguntavam: “Por onde anda o Beija-Flor? Será que algum menino malvado o atingiu com estilingue?”. Alguém respondeu: “Não!. Ele é muito esperto para ser pego por estilingue”. Outro. “Talvez tenha adoecido e morreu sozinho por aí”. Uma flor retrucou: “Também acho que não. Não parece, mas ele é bem jovem, e estava em pleno vigor físico”. As demais flores não gostaram desse comentário da amiga que já era vermelhinha , e ficou ainda mais, de vergonha pelo que não conseguiu segurar. Muitas vezes o amor faz as pessoas dizerem o que não querem... ou não podem. E assim se passaram muitos dias, até que a velha e sábia coruja apareceu com a notícia: “Eu sei aonde anda o Beija-Flor. Moleque ousado que é, foi visitar outros reinos, conheceu uma flor diferente, muito linda, encantou-se, apaixonou-se por ela, e agora beija somente a ela. Tornou-se um Beija-Flor de uma flor só!”. Curiosamente, as flores não ficaram tristes, ao contrário, ficaram felizes, pois no fundo todas elas torciam que ele fosse feliz um dia, mas nenhuma delas jamais esqueceu o beijo daquele Beija-Flor.
E assim termina A LENDA DO BEIJA-FLOR DE UMA FLOR SÓ. A lenda que quase aconteceu.