ESCREVER É DIVINO!

ESCREVER É DIVINO!
BONS TEMPOS EM QUE A GENTE PODIA VOAR. ERA MUITO BOM SER PASSARINHO.

CAMINHOS DE UM POETA

CAMINHOS DE UM POETA
Como é bom, rejuvenescedor e incentivador para o poeta, poder olhar para trás e ver toda a sua caminhada literária, lembrar das dificuldades, dos incentivos e da falta deles, da solidão de ser poeta e do diferencial que é ser poeta. Olhar para trás e ver tudo que semeou, ver uma estrada florida de poesias, e dizer: VALEU A PENA! O poeta vai vivendo, ponteando, oscilando, e nem se dá conta da bela estrada que escreveu. Talvez ele não tenha tempo porque o horizonte o chama, e o seu norte é... escrever... escrever... escrever. Olho hoje para trás... não foi fácil, mas também ninguém disse que seria. E eu sabia que não seria, ser poeta não é fácil, embora seja lindo. Contemplo a estrada que eu fiz, e digo com orgulho quase narcisista: Puxa... como é linda minha estrada!

domingo, 4 de outubro de 2015

VENDENDO PICOLÉS E COMPRANDO SONHOS E SUSPIROS




Eu era um bom  vendedor de picolés. Antes de contar a história principal, vou contar uma outra curtinha que faz parte dela. O dono da sorveteria pagava a nós meninos, 15% de comissão pelas vendas. Certa vez estava tanto estava tanto calor, eu estava com uma sede danada, sentei debaixo de uma árvore, peguei dentro do bornalzinho pendurado no ombro, a calculadora que ele dava pra gente carregar,  fiz o cálculo de quanto eu ganharia, e chupei os meu 15%. Chegando lá ele riu, mas  deu bronca:  “Você não pode chupar a sua parte, sua mãe vai pensar que eu não lhe paguei” . Respondi: “Ah, eu tava com uma sede doida... mas não vou fazer mais não”. Aproximava-se o dia das crianças, e ele resolveu premiar com uma bola de futebol oficial, o menino que vendesse mais picolés num determinado período. Fiquei um pouco desanimado porque eu era bom vendedor, mas tinha um menino que era imbatível, também não era para menos, vendia o dia todo, acho que não estudava, enquanto eu só podia depois das 13h. Isso me levou a abdicar de brincar, até de jogar bola que eu adorava, mal comia e já ia vender. O futebol amador na  cidade era muito intenso, ativo, tinha até campeonato, e num bairro bem próximo havia um estádio, não um grande estádio, mas era bom, organizado, ficava sempre cheio nos domingos de jogos, e a molecada vendia picolés lá, eu também. Houve um domingo em que passei numa rua diferente, como atalho para chegar mais rápido. Lá havia uns 8 ou 10 rapazes, e um gritou: “Ô, picolé. Vem cá! Tem de quais sabores aí”. Falei os sabores, ele pediu um, o outro também, o outro, enfim todos pegaram, foram chupando, e em pouco tempo os picolés acabaram. O que havia chamado disse pro outro. “Fulano, paga aí”. O amigo respondeu: “Eu??? Tenho dinheiro não. Você mandou eu pegar, eu peguei”. Um outro: “Nem eu, e eu só chupei dois, nem carteira eu trouxe”, disse levantando a camisa. E assim ficaram, um jogando pro outro. O principal me disse: “É, menino. Você deu azar, ninguém tem dinheiro. Volte aqui amanhã que lhe pago”. Comecei a fazer beicinho para chorar, um deles ficou com dó: “Parem de enrolar o menino, paga logo aí”. Depois de rir um bocado, o rapaz pagou, e disse: “Vá lá buscar mais que nós vamos querer”. Fui até correndo, o dono admirou: “Já? Você saiu só tem meia hora e já vendeu tudo? Desse jeito vai ganhar a bola”. Pedi para ele encher mais a caixa, mas ele não encheu: “Não pode, vai prejudicar sua coluna, você é muito magrelo”. Eu era mesmo, depois que eu fui ficando um “gordinho gostoso” rs rs. Voltei lá, chuparam tudo rapidamente e ainda pediram mais uma caixa. Novamente o dono: “Que segredo é esse de vender tão rápido?”. Só que eu não falei, com medo de os outros meninos escutarem e invadirem “minha área”. Saindo da sorveteria passei numa padaria e comprei  dois sonhos e um suspiro. Eu sempre comprava.  Ainda faltavam mais uns dias para a contabilização geral das vendas, e eu tive uma grande ideia, grande mesmo, para um menino de 11 ou 12  anos; passei a chupar meus 15% todo dia, mas colocava o dinheiro no lugar, como se eu estivesse vendendo, só que vendendo para mim mesmo. Pensei: “Eu quero é a bola, perco minha comissão, mas o importante é constar número maior de vendas, somar pontos”. Conclusão: Passei o dia das crianças com uma bola novinha, branquinha de gomos dourados, com os nomes dos jogadores da seleção. Os amiguinhos pensaram que ganhei de presente pelo dia das crianças, deixei que pensassem assim, não queria que pensassem que minha mãe não podia me dar  uma bola, isso nem era da conta de ninguém. O importante é que jogávamos até as 10h da noite na Rua Vital Brasil, aquela rua... a minha rua.
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Pensando bem... Até hoje não sei porque essas guloseimas têm esses nomes. Será que o sonho da padaria se chama sonho porque ele é doce? E será que o suspiro da padaria se chama suspiro porque ele demora pouquinho na boca da gente, deixando um gostinho de quero mais? Deixa pra lá.
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( imagem fotolia.com )

6 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Delicioso texto...

Votos de uma maravilhoso Domingo.

Beijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Ivone disse...

Ah, que linda sua história, amei ler amigo Carlos, essas coisas de nossa infância não morre jamais, faz parte do nosso ser, eu amo poder recordar e escrever sobre essas recordações!
Têm poetas que não admitem que escrevem suas próprias experiências, dizem que são inspirações e sensibilidades que captam por terem nascido para isso,não discuto isso, mas eu sempre escrevo o que sinto, o que sei, o que penso, bem assim como fizestes aqui com esse lindo momento de sua infância!
Abraços meu amigo poeta sensível e muito querido!

Arte & Emoções disse...

É isso aí Carlos! A inteligência sempre chega na frente. O pulo do gato não se ensina.

Abraços,

Furtado.

Maria da Graça Reis disse...

Recordar é viver.
Um doce de texto e você era um menino bem esperto.
Abraço fraterno

Louraini Christmann - Lola disse...

Que história linda. E muito bem contada.
Fiquei fazendo torcida pra que o menino
vendesse mais. he he he!

Um grande abraço!
Perdão por minhas ausências, mas prometo melhorar.

Andre Mansim disse...

Essas histórias da infância são as melhores!
As vezes são tristes, as vezes alegres, mas sempre lúdicas, o que é bom!

Tenha um lindo final de semana!